
Houve um tempo, não muito distante, aproximadamente até o início do século XX, em que a mulher se identificava quase exclusivamente ao papel de mãe. Para o mundo, e para ela própria, gerar um filho do homem que a escolhera era o bastante. Como um depósito, sem desejos e singularidade, abrigava um embrião; aquele que viria a dar o único sentido de vida possível: Parir e educar um filho; de preferência, um filho homem.
A partir do mito de que “toda mulher deseja ser mãe”, a cultura e a sociedade limitaram e sufocaram, por anos e anos, os anseios e potencialidades do feminino.
Foi com o iluminismo, do século XVIII, e seus ideais de igualdade, liberdade e fraternidade que o pensamento começou a expandir. Mudanças políticas, econômicas e sociais constituiram as bases para um novo olhar.
Aos poucos, e com a ajuda das revoluções, principalmente a industrial, as mulheres foram se descobrindo capazes de muito mais. Um leque de possibilidades se abriu. Às atividades domésticas, se somava a capacidade produtiva. Um grande número passou a se autorizar trabalhando fora de casa.
Esse foi o grande pontapé para uma nova era! Era de mulheres produtivas; livres para pensar e escolher. Se descobriram fortes, capazes, decididas e acreditadas. Resultado, este, de um processo de amadurecimento cultural e social que facilitou o desenvolvimento pessoal.
Estamos no século XXI. As conquistas avançam e o mundo se mostra mais complexo. Mulheres, cada vez mais, ocupam cargos importantes e de grande responsabilidade. Empreender também se torna realidade. Com habilidades diversas, são capazes de ganhar o mundo através dos negócios. Abrem suas empresas e focam o resultado. Ganham o seu dinheiro e adquirem independência.
Entretanto, os desejos de ser mãe, mulher, esposa permanecem. Desejos inúmeros que se vinculam fortemente aos rígidos padrões da sociedade. São muitas possibilidades e inúmeras exigências! Podem “Ser”, mas não o conseguem. Crescer profissionalmente pode significar abrir mão de muitas coisas. A modernidade, com suas vantagens, tem se mostrado um verdadeiro desafio.
O tempo é vilão, o dia ficou curto. A ilusão de completude e felicidade cedeu espaço a um sentimento angustiado; uma maioria lutando em conciliar vida pessoal e profissional; desejos e obrigações.
O velho conflito de se dedicar à carreira e ser suficientemente boa em tantas outras áreas. Profissional competente, mãe presente, esposa dedicada, corpo adequado, pele cuidada. Sem falar na sociabilidade, leveza e tranqüilidade que vem colado no pacote do “ser mulher”. Difícil mesmo se ajustar nos dias de hoje… E, quando menos se espera, estão todas correndo atrás do impossível, do idealizado, do inatingível. Sofrendo, vão gastando vida, saúde e energia. Que dilema!
Buscar medicamentos como forma paliativa tem sido uma opção. Anti depressivos e ansiolíticos acalmam, ajudam a estabilizar a química do corpo, mas não resolvem, por si só, o conflito. Sentir, e não tamponar a via do pensar, permite novas posturas e ações.
O processo de análise pessoal veio como aliado nesta batalha. Sentir a dor é diferente de sofrer a dor. Com o propósito de preservar e estimular o pensamento humano, a análise concede sentido à vida; às escolhas e consequentemente às realizações. A compreensão do “ganhar aqui e perder ali” leva à liberdade e reconciliação consigo mesmo.
O caminho do autoconhecimento se mostra, então, ferramenta assertiva para se chegar ao sentido da existência, ao cerne do propósito. Decidir certo tem relação direta com se auto conhecer, se apropriar de si mesmo. Ter consciência de suas fortalezas e limitações para, assim, poder agir e gerir. Desenvolver habilidades, ou se apropriar das que possui, e utilizá-las assertivamente, exige trabalho pessoal, autoconhecimento. Parece simples, mas não é.
Muitas mulheres se percebem cansadas, desanimadas, sem energia. Vivem em busca, ou correndo atrás, de algo que, nem elas mesmas, entendem o porquê. É o que se chama viver alienado no desejo do outro ou de uma sociedade. Falta conhecer a si mesmo e identificar o que é próprio.
Autoconhecimento exige investimento, persistência; mas possibilita seguir e recuar na medida certa, sem violentar e agredir o próprio self. É um percurso longo para se tornar dono de si mesmo. Conseguir dar os “nãos” e “sins” necessários, sem culpa ou remorso. Após algum tempo de análise, muitas coisas perdem o sentido e outras adquirem novo valor. Pode-se chamar de “O grande e real encontro”: Ser e estar no mundo de maneira criativa, própria e singular. Ouso afirmar: A verdadeira felicidade!
Estar identificada à uma sociedade, respeitando as regras e normas para o bom convívio não significa se confundir a ela, ou se anular em função dela. É o gesto espontâneo de cada indivíduo que dá colorido, fluidez e desenvoltura à vida.